A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a farmacêutica AstraZeneca divulgaram na última quinta-feira (17) uma campanha para reforçar a prevenção aos casos de vírus sincicial respiratório (VSR) em bebês prematuros e com condições de saúde consideradas de risco para essa infecção. O vírus é o principal responsável por casos de bronquiolite e pneumonia em bebês e também está associado a uma maior frequência de internações por síndromes respiratórias nesse grupo.
O presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP, Renato Kfouri, explicou que ainda não há vacina que previna esse vírus, mas o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza, desde 2013, outra forma de prevenção: os anticorpos monoclonais, que são anticorpos artificiais que podem ser dados aos bebês mensalmente durante o período de maior circulação do vírus.
“Eles têm a função de se ligar ao vírus e impedir a adesão dele ao epitélio respiratório (mucosas). É prevenção, é imunização, mas não é vacina. É um conceito um pouco diferente. A gente oferece um anticorpo artificial, pronto, para o indivíduo”, diferencia Kfouri, já que, nas vacinas, a estratégia de prevenção é estimular o corpo humano a produzir os anticorpos.
Anticorpos
Os anticorpos monoclonais contra o VSR estão presentes no fármaco palivizumabe, que a AstraZeneca fornece tanto para a saúde privada quanto para a saúde pública no Brasil.
O Ministério da Saúde prevê que esses anticorpos devem ser oferecidos a crianças prematuras de até 29 semanas e com idade inferior a 1 ano, ou a crianças de até 2 anos com doença pulmonar crônica da prematuridade, doença cardíaca congênita ou repercussão hemodinâmica demonstrada. Segundo determinação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), planos de saúde também devem cobrir o medicamento nesses mesmos casos.
Com a campanha, a Sociedade Brasileira de Pediatria pretende conscientizar pediatras sobre a importância da prescrição desses anticorpos nos casos em que ele é recomendado. Kfouri acrescenta que pais e responsáveis pelas crianças prematuras também podem levantar esse assunto nas consultas ou buscar o pediatra que acompanha o bebê, caso a prescrição não tenha sido feita.
“Esses prematuros nem sempre estão vinculados a um serviço de seguimento de prematuros. Muitas vezes, são acompanhados por pediatras da rede pública, do SUS, de consultórios particulares e muitas vezes é necessária uma atualização e uma capacitação desse profissional.”
Circulação do vírus
Como a maior parte das doenças de transmissão respiratória, o VSR circula principalmente no outono e inverno, mas essa sazonalidade também pode ser afetada por fatores como umidade e até volume de chuvas. No Brasil, o período de maior circulação desse vírus costuma começar em fevereiro no Norte, em março no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, e em abril no Sul.
O período de circulação costuma durar cerca de quatro meses, e o especialista da SBP afirma que é recomendável iniciar a imunização com o palivizumabe um mês antes dessa janela, administrando o fármaco uma vez por mês por até cinco meses. Como os anticorpos já chegam prontos ao corpo das crianças, o sistema imune não aprende a produzi-lo e, por esse motivo, o remédio precisa ser administrado uma vez por mês.
Com a pandemia de covid-19, o predomínio do SARS-CoV-2 sobre outros vírus e as medidas de prevenção tomadas para conter sua circulação, outras doenças foram afetadas, o que inclui o VSR. O vírus teve sua circulação praticamente interrompida nos períodos de maior isolamento social e voltou de forma atípica em 2021, causando um aumento de casos até mesmo depois de setembro, quando já deveria estar em queda. Mesmo assim, dados do sistema InfoGripe mostram que o VSR pode ter causado mais casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) na faixa etária de menos de 1 ano que a covid-19, ao longo do ano de 2021.