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Funed avança nas pesquisas sobre casos agudos e crônicos de doença de Chagas

O objetivo do trabalho é detectar a presença de DNA de T. cruzi no alimento e caracterizar o parasito nos barbeiros positivos analisados na Funed

O Serviço de Doenças Parasitárias (SDP) do Laboratório Central de Saúde Pública da Fundação Ezequiel Dias (Lacen-MG/Funed) é o Laboratório de Referência Nacional (LRN) para o diagnóstico da doença de Chagas. Entre as funções desempenhadas, destacam-se as ações de Vigilância Epidemiológica, diagnóstico sorológico nacional da doença, supervisão, capacitação de recursos humanos e controle da qualidade das análises de suas redes estadual e nacional. Além disso, o SDP auxilia na investigação dos surtos de doença de Chagas aguda, hoje relacionadas principalmente ao consumo de alimentos contaminados, tais como açaí e bacaba não pasteurizados.

Considerada uma doença de países emergentes – sendo endêmica em 21 países da América Latina – a doença de Chagas começou a chamar a atenção da Organização Mundial da Saúde (OMS) desde que passou a atingir cada vez mais locais não impactados pelo barbeiro com o protozoário Trypanosoma cruzi – causador da doença – como Estados Unidos, Canadá e alguns países europeus.

Referência técnica em doença de Chagas do SDP do Lacen-MG/Funed, Fernanda Medeiros explica que na fase aguda inicial os pacientes podem apresentar sintomas como edema de faces e membros, dor de cabeça, fraqueza e febre persistente. “Na fase crônica, cerca de 30% dos infectados evoluem para doença cardíaca ou digestiva. A cardiomiopatia chagásica é a manifestação mais crítica, sendo responsável pelo aumento de mortes devido a arritmias cardíacas ou insuficiência cardíaca progressiva, além de poder provocar acidente vascular cerebral (AVC)”, diz.

Fernanda acrescenta que os paciente crônicos podem ser assintomáticos, geralmente são mais velhos e de difícil notificação. “Nesse sentido, temos feito esforços coordenados para fortalecer programas públicos e desenvolver iniciativas para combater a doença. A Funed está permanente trabalhando para a melhoria do diagnóstico”, afirma.

Vigilância epidemiológica

Chefe do SDP, Letícia de Azevedo Silva conta que a Funed participa de dois projetos com o objetivo de avaliar a qualidade dos conjuntos diagnósticos sorológico para a doença de Chagas crônica pelas metodologias de ensaio imunoenzimáticos (Elisa), reação de imunofluorescência indireta (Rifi), reação de hemaglutinação indireta (HAI) e testes rápidos imunocromatográficos (TRI) registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e disponíveis no mercado nacional.

“Os projetos ‘Avaliação do desempenho diagnóstico de testes rápidos para a triagem sorológica da doença de Chagas crônica’ e ‘Avaliação de Kits Diagnósticos Sorológicos para doença de Chagas’ foram idealizados e conduzidos por meio de um estudo multicêntrico”, detalha.

O estudo envolveu três instituições: Laboratório de Saúde Pública do Instituto Gonçalo Moniz (IGM, Fiocruz; Salvador/BA), Núcleo de Estudo de Doença de Chagas (NEDoC) do Hospital das Clínicas/Ebserh da Universidade Federal de Goiás (UFG; Goiânia/GO) e o SDP da Funed.

Espera-se que os resultados expostos nesses relatórios auxiliem a equipe técnica do Ministério da Saúde (MS) na tomada de decisões quanto à aquisição do(s) teste(s) de melhor desempenho para ser(em) utilizado(s) no território nacional na identificação de casos crônicos da doença de Chagas, em especial no projeto IntegraChagas, que visa ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento da doença em território nacional, por meio de um protocolo de pesquisa operacional, usando testes rápidos imunocromatográficos para a triagem sorológica.

Letícia conta também que, atualmente, os testes rápidos passaram a ser uma alternativa atraente para uso em inquéritos soroepidemiológicos, com vantagens de produzirem resultados em pouco tempo (no geral, de 15 a 20 min). Além disso, dispensam o uso de equipamentos, evitam o deslocamento do material biológico para laboratórios especializados, entre outras vantagens. “Nossa avaliação verifica o desempenho desses testes no que tange à sensibilidade, especificidade e acurácia dos resultados. E essas variáveis constam nos relatórios para apoiar de forma estratégica a decisão das equipes de saúde pública”, acrescenta a chefe do SDP.

Casos agudos

Nos últimos anos, os casos da doença aguda têm sido observados em diferentes estados, em especial na região da Amazônia Legal, principalmente, em decorrência da transmissão oral.

Um projeto do Serviço de Biotecnologia e Saúde (SBS) da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento, em parceria com o Serviço de Ciências Bioquímicas (SCB) do Lacen-MG/Funed, tem o objetivo de investigar os casos agudos da doença de Chagas decorrentes de pequenos surtos, causados principalmente pelo consumo de açaí não pasteurizados.

O objetivo do trabalho é detectar a presença de DNA de T. cruzi no alimento e caracterizar o parasito nos barbeiros positivos analisados na Funed, etapa que contará ainda com o apoio da equipe de entomologia do SDP. “Nesse sentido, a parceria entre as diversas áreas da Funed no desenvolvimento desse projeto visa padronizar e implantar metodologias de extração de DNA de Trypanosoma cruzi em amostras de açaí e sua detecção e tipagem por técnicas moleculares como a PCR em tempo real e análises de HRM (do inglês High Resolution Melt) dos produtos gênicos amplificados”, explica Sérgio Caldas, responsável pelo Serviço de Biotecnologia e Saúde.

A implantação da metodologia no Lacen-MG/Funed fornecerá dados sobre os riscos de contaminação alimentar por T. cruzi presente no açaí e possibilitará a avaliação da qualidade do produto em Minas Gerais e em outros estados brasileiros, sob demanda de órgãos fiscalizadores. “Essa avaliação poderá subsidiar ações de Vigilância Sanitária, podendo ser implementado um monitoramento contínuo, caso necessário”, finaliza Daniela Peralva Lima, chefe do Serviço de Ciências Bioquímicas.

Calendário internacional

O Dia Mundial da Doença de Chagas, comemorado em 14/4, é uma referência à data em que o médico brasileiro Carlos Chagas realizou o primeiro diagnóstico da enfermidade na menina Berenice Soares, em 1909. Mais de 110 anos se passaram e a doença ainda representa um problema de saúde global que afeta, apenas nas Américas, entre 6 a 8 milhões de pessoas, de acordo com estimativas da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Agência Minas

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