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Polícia Civil aponta que queda de rocha em Capitólio foi evento natural

Uma minuciosa análise aponta que uma sequência de eventos geológicos resultou na queda da rocha.

Após intenso trabalho investigativo, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) finalizou as apurações em relação ao desprendimento do bloco rochoso de um paredão de cânions, em Capitólio, região Sudoeste do estado, que provocou a morte de dez ocupantes de uma embarcação. O inquérito policial aponta que os fatos se deram em razão de evento natural – relacionado com o processo de erosão e outros fatores geológicos, comprometendo a sustentação da rocha – e elenca sugestões para a melhoria da segurança na área.

O acidente ocorreu no dia 8/1 deste ano, por volta do meio-dia, em ponto turístico do Lago de Furnas, na altura da rodovia MG-050, Km 312. Além das vítimas que estavam na lancha de nome Jesus, 27 ocupantes de outras embarcações ficaram feridas. Segundo o delegado regional em Passos, Marcos Pimenta, desde as primeiras horas, as investigações ocorreram de forma ininterrupta para o esclarecimento dos fatos. “Para a Polícia Civil, não houve ação humana que teve nexo causal com a queda do bloco. Exaurimos os questionamentos”, resume o presidente do inquérito policial.

O perito criminal Rogério Shibata integrou a equipe que realizou os trabalhos iniciais de local, fazendo os primeiros levantamentos e registros fotográficos. Em seguida, os policiais civis se deslocaram para um clube náutico, usado como ponto de apoio para a força-tarefa atuante no caso. “Para cada corpo que chegava, a gente fazia o registro e procurava detalhes, como piercings, tatuagens, sinais de nascença e alguma cicatriz, a fim de garantir que o corpo chegasse ao Posto Médico-Legal de Passos com condições de ser identificado”, conta. Em 36 horas, a PCMG, com apoio da Polícia Federal, identificou as dez vítimas. 

Dando continuidade ao procedimento investigativo, foram realizadas mais de 50 oitivas e providenciadas perícias na região dos cânions e em lanchas. Houve ainda a captação de informações para a instrução do inquérito policial com diversos órgãos, entre eles o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a Superintendência Regional de Meio Ambiente (Supram), o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), a Marinha do Brasil e a Prefeitura de Capitólio. “Durante as investigações também fizemos reuniões com o Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal”, acrescenta o delegado Marcos Pimenta. 

Fatores geológicos

Uma minuciosa análise das características e condicionantes geológicas da região, registrada em laudo anexo ao inquérito policial, aponta que uma sequência de eventos geológicos resultou na queda da rocha. Segundo o perito Otávio Guerra, especialista em geologia, estão relacionados com a desestabilização fatores como o processo erosivo a partir da base do bloco, junto a um material decomposto facilmente de ser carreado, a extensa fratura aberta na região superior da rocha (que permitia infiltração) e o fluxo de água da cachoeira que atinge a estrutura rochosa. 

“Considerando os achados periciais e analisando a forma como se deu o deslocamento do bloco, é possível afirmar que o bloco de quartzito tombou porque perdeu a sua sustentação devido ao processo erosivo, que removeu a massa que dava sustentação ao bloco. A perda de sustentação fez com que esse bloco buscasse um novo ponto de equilíbrio. Ele tenta se acomodar e, nessa acomodação, as fraturas [fechadas] da região basal e lateral, que mantinham esse bloco afixado no maciço, rompem-se. A partir do momento que o deslocamento sai do apoio da sua base, qualquer bloco, a tendência é tombar”, descreve Guerra.

O perito explica que esses eventos geológicos vêm ocorrendo há anos. “É praticamente imprevisível a gente fazer qualquer mensuração”, observa. Otávio Guerra adverte que não se trata de uma situação isolada e que outros blocos rochosos na região se encontram em situação parecida ao do que se abateu. “Razão pela qual é fundamental que se comece a pensar em um planejamento, um mapa de risco para aquela região”, alerta. 

Segurança 

Visando aumentar a segurança das pessoas que frequentam a localidade, forte atrativo turístico de Minas Gerais, a Polícia Civil elaborou uma lista com dez sugestões que será encaminhada aos órgãos e às instituições responsáveis pelo licenciamento de atividades e fiscalização da região. 

1- Realização de mapeamento de todas as zonas de risco (movimento de massas) por geólogos e/ou outros profissionais especializados no ramo, e sua demarcação em campo e em planta.

2- Redução no número de embarcações nos cânions, as quais deverão apenas contemplar o local, em velocidade baixa e sem uso de aparelho sonoro.

3- Implementação do selo de identificação nas embarcações. O selo será fornecido pelo Poder Público Municipal e deverá ser afixado na embarcação para facilitar a fiscalização – o selo somente será fornecido após análise das condições físicas das embarcações e verificação documental, incluindo comprovante de seguro de vida.

4- Identificação de todos os turistas que utilizarem embarcações, sendo que o controle/cadastro deverá ser armazenado/disponibilizado nos respectivos píeres.

5- Uso obrigatório de colete (em toda represa) e capacete na região dos Cânions e áreas semelhantes.

6- Maior integração entre os órgãos/instituições responsáveis pela concessão e fiscalização de empreendimentos turísticos.

7- Proibição de passeios turísticos na região quando da comunicação de advertência pela Defesa Civil.

8-  Fortalecimento das fiscalizações de engenharia, geologia e ambiental.

9- Exigência de estudo de risco e respectiva contenção para os empreendimentos turísticos.

10- Efetiva participação de Furnas e da concessionária Nascentes das Gerais na adoção de medidas preventivas de segurança. 

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