A palavra voyeur define bem o cronista: um sujeito que tem prazer em sair pela cidade, ou postar-se na janela, ou voltar-se para dentro de suas próprias memórias, observando fatos, lugares, seres vivos e sem vida. Dessas observações nascem textos que podem ter humor, lirismo, reflexões sobre o cotidiano e as miudezas a que ninguém dá importância. Assim é “Corpo Nu à Beira-Mar”, de Elisa Guedes. Um conjunto de crônicas criadas a partir de temas do dia a dia: arte, cultura e preferências nacionais; política; maturidade; educação; relacionamentos e a vida na terra natal.
O prefaciador, professor Luís André Nepomuceno, tece a seguinte análise: “…seu texto, fluente e saboroso, transitando entre a narrativa pura e a fala reflexiva que se aproxima do artigo de opinião, fala de tudo a seu modo: sabe fazer humor quando a hora pede, sabe falar de coisa séria, sabe ironizar quando a situação é mesmo ridícula e, acima de tudo, sabe respeitar a inteligência do leitor”.
São escritos que a cronista produziu nos últimos anos, como alguém que conversa com o leitor, saboreando histórias de vida, as suas e as de outros, em contexto histórico que une o passado e o presente, o individual e o coletivo. Mas ninguém se iluda, a própria autora avisa que seu “jeito de estar no mundo não é a placidez serena de Monalisa, mas o desespero de O Grito”. A leveza de superfície engana a força da correnteza das águas profundas.
A apresentadora do livro, a também professora Jô Drumond, reflete sobre a obra: “Com muita perspicácia, ela desnuda hipocrisias e preconceitos sociais por meio de uma sátira sutil e refinada”.
Definindo-se como alguém que vive à moda de uma violeta, que gosta de caminhar entre silêncios, vazios e faltas, Elisa Guedes convida o leitor para um encontro “primaveril, dada a diversidade de formas, tons e nuances dos convidados, mas com a natureza outonal de quem já vislumbra o dia mais curto, a noite mais longa e as frutas mais doces”.
O escritor e professor Lívio Soares, analisa: “os textos deste livro acabam trazendo à tona uma mulher interiorana que anseia por um cosmopolitismo genuíno, ao mesmo tempo em que reflete, por exemplo, sobre a vida longe dos grandes centros urbanos ou sobre a velhice, a autora quer entender os tempos correntes e estar neles não com saudosismo acrítico, mas com desejo de se manter atualizada. Nesse vaivém ora no passado, ora no presente, ganha o leitor uma das mais notáveis características da literatura — a atemporalidade”.
Minibiografia de Elisa Guedes por Altamir Fernandes de Sousa
“Elisa Guedes nasceu em Patos de Minas, lugar onde também estudou, casou-se e criou seus três filhos. Graduou-se em Letras e fez Mestrado em Educação. Foi diretora escolar, professora de educação básica e superior. No UNIPAM, foi Coordenadora do Núcleo de Avaliação Institucional, Coordenadora de Extensão, Vice-Reitora, membro do Conselho Universitário e do Corpo Editorial da Revista Perquirere. Criou, implantou e dirigiu o projeto UNIPAM SÊNIOR: Universidade para Terceira Idade.
Na Prefeitura de Patos de Minas atuou como Chefe de Divisão de Cultura e Secretária Municipal de Educação e Cultura. Tem artigos publicados em vários veículos de comunicação. Elisa Guedes é uma intelectual de voz resoluta, cuja paixão pela escrita e pelas artes se desvelou desde tenra idade. É uma mulher cosmopolita, sintonizada com a complexidade das questões políticas, econômicas, culturais e sociais de seu tempo. Empoderada, suas palavras ecoam por meio destas crônicas sua visão de mundo, as reminiscências de sua vida, nas várias mudanças geracionais, até chegar à discussão sobre o envelhecer na modernidade líquida. A cronista sabe lidar com as palavras e as ideias multifacetadas. Certamente, o leitor irá mergulhar nas profundezas de suas crônicas, que manifestam prazer sensorial e estético.”